IN MEMORIAM. UMA CARTA DIRIGIDA AO MEU PAI
Valdeci dos Santos
Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN);
Cursos Livres em Psicanálise Clínica e Hipnose Clínica pela Sociedade de Estudos Psicanalíticos e Hipnose Aplicada (SEPHIA); Curso Livre em Biomagnetismo (ministrado pelo médico e padre Elias Arroyo Román); Curso Livre em Renascimento pelo Instituto de Renascimento de São Paulo; Estudos em Parapsicologia e Religião pelo Instituto Padre Quevedo de Parapsicologia.
Já posso partir! Que meus irmãos se despeçam de mim! Saudações a todos vocês; começo minha partida. Devolvo aqui as chaves da porta e abro mão dos meus direitos na casa. Palavras de bondade é o que peço a vocês, por último. Estivemos juntos tanto tempo, mas recebi mais do que pude dar. Eis que o dia clareou e a lâmpada que iluminava o meu canto escuro se apagou. A ordem chegou e estou pronto para minha viagem.
(Rabindranath Tagore)
Natal, 05 de março de 2005.
Painho,
Sinto a sua falta e começo a chorar! Faz oito meses que o seu organismo biológico já não existe. É marcante a ruptura entre um organismo que metabolicamente deixa de existir e as subjetividades singulares construídas por seus sujeitos.
Visualizo nossas casas circunscritas no terreno que o senhor cuidara, dividiu e ajudou cada filho a construir sua moradia, me lembro do seu título de engenheiro, dos apelidos que costumávamos chamá-lo, das brincadeiras, das visitas diárias, das confraternizações, das reuniões para discutirmos problemas que surgissem e que pudessem desequilibrar nosso núcleo familiar, das reflexões equilibradas sobre o cotidiano. Imagino a micropiscina que o senhor e Marcio haviam construído em janeiro de 2004 para os netos brincarem, período no qual a família estava reunida – dez filhos, pai, mãe, nove netos, cinco noras e dois genros – e fizemos fotografias para registrar aquele grande primeiro encontro.
É com sentimento de luto e de continuidade que penso na finitude da sua vida, no seu marcante conselho, que diante de limites devemos buscar possibilidades “[...] Moça, levante a cabeça e siga em frente. Que Deus te abençoe”. Sinto-me abençoada.
Atualmente, estou morando em Natal – RN, cursando o Doutorado em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e tenho como objeto de estudo a concepção do biólogo sobre a morte. No momento, o meu desafio é escrever sobre o processo que anunciava a sua finitude orgânica e metabólica.
Sei que os termos aqui empregados não serão tão estranhos ao senhor, pois cultivávamos o hábito de trocas de experiências e conhecimentos, e o senhor sempre esteve disponível para o novo, para o inusitado, dialogando com seus dez filhos sobre as especificidades das áreas de formação de cada um.
Esse fato foi notado e elogiado pelo oncologista quando o senhor fez acorrelação entre o aparelho digestivo do boi e o do homem a fim de destacar a importância do pâncreas para a vida daquele animal. Lembro-me da pergunta que ele fez: “[...] Como o senhor conhece esses detalhes?” Ele sabia que o senhor só tinha feito a 1ª série do que atualmente chamamos Ensino Fundamental e era motorista de táxi há cerca de trinta anos, e foi com a sua natural serenidade que respondeu: “[...] Doutor, para se educar dez filhos é preciso que você esteja aprendendo, pois seus filhos precisam ir além de você. Aprendi sobre o boi enquanto estava à espera de passageiros no campo do gado”. Esse fato, dentre tantos outros em sua vida, o fizeram um ser singular.
Deparo-me com o formalismo da academia e a necessidade de instaurar, como diz um autor chamado Edgar Morin, a minha singular objetividade subjetiva de ser vivo e humano e é enquanto sujeito cognoscente que escrevo esta carta para o senhor, numa perspectiva metafórica de expressar o meu sentimento diante da sua morte anunciada e iminente.
Suponho que essa escrita trará significativas contribuições para o meu objeto teórico de pesquisa, pois estou falando do lugar de uma porta-voz da ciência diante da finitude da vida do Outro de seu vínculo afetivo. Como a academia verá isso? Sinceramente não sei, mas estou me propondo a investigar a interface cultura científica/cultura humanística e localizar o núcleo duro que norteará as entrevistas dos meus colaboradores no estudo.
Começarei reconstituindo a memória relativa ao momento em que seu organismo apresentou ruído. Esse momento demarca o período de procura das possibilidades oferecidas pela Ciência para resolução da sua queixa principal, no qual eu, na condição de sujeito constituído no circuito da Ciência através da formação como e bióloga, me sentia à vontade para dialogar, discutir e orientar nos procedimentos prescritos pelos médicos.
Localizo o percurso da busca de um diagnóstico através de fragmentos do diário técnico que elaborei no período de 10 a 26 de maio de 2004, para subsidiar o diálogo interdisciplinar com a equipe médica.
O dia 10 de maio de 2004 poderia ser um dia como outro qualquer, singular pela diversidade de aprendizados, possibilidades e limites, mas um fato perturbou o nosso núcleo familiar, o senhor acordara sentindo dores na região do estômago irradiando para o rim direito, imediatamente, o encaminhamos para uma emergência hospitalar, sendo detectado que estava com a pressão arterial alta. Tendo sido medicado, foram solicitadas consultas com cardiologista e gastroenterologista. À tarde, fomos consultar uma médica naturista e uma cardiologista. Sem que desconfiássemos, aquele dia, simbolicamente, marcava a contagem regressiva para a finitude da sua vida.
Aquelas consultas ofereceram-nos uma tranqüilidade, quanto à resolução imediata das dores, a médica naturista considerou, como origem da queixa, problemas digestivos e hipertensão, prescrevendo Captopril 25 mg + Tintura de espinheira divina + Chás. Já na primeira dose da Tintura de espinheira divina, começamos o senhor e eu a investigarmos a ação dessa medicação, pois queixara do aumento da intensidade da dor no estômago. Dor que só aliviava quando usava Buscopan Composto. A cardiologista fez eletrocardiograma (Conclusão ECG: 1. eixo elétrico desviado para a esquerda, 2. distúrbio de condução do ramo direito.) e, fazendo as ponderações de acordo com sua idade, informou que não existiam alterações significativas. Prescreveu Micardis 40 mg + Hidroclorotiazida 25 mg e solicitou os exames: PSA, sumário de urina, acido úrico,creatinina, glicemia em jejum, hemograma, leucograma, colesterol (total, HDL, LDL), triglicérides.
Ao chegarmos em casa, a família reunida, discute mudanças nos hábitos alimentares a partir daquele dia, e era grande a expectativa das dores desaparecerem. No dia 11 de maio de 2004, fomos realizar os exames solicitados pela cardiologista e consultar uma oftalmologista que prescreveu lentes bifocais (Perto –6,00/6,25; Longe – 3,00/3,25). Estranhei o grau solicitado, pensei no histórico de diabetes da sua família original, mas não dei importância, pois o foco estava, nas dores, que só cessavam por um período de três a quatro horas quando do uso do Buscopan Composto. E, como de costume, a família brincou, inclusive sobre o grau para os óculos.
No dia 12 de maio de 2004, fomos consultar um gastroenterologista, profissional que se destacou por posicionar-se como pesquisador que integra o paciente como grande 5 colaborador e investigador do seu quadro clínico. O senhor ficou admirado com os detalhes perguntados e entusiasmado com a possibilidade da resolução imediata das dores. O médico não prescreveu medicação, solicitou uma investigação, em especial, quanto às reações apresentadas com o uso do Buscopan Composto. Pediu alguns exames: colonoscopia, endoscopia digestiva e ultra-som de abdome total.
As dores persistiam. Continuamos a procura das possibilidades da ciência, e no dia 13 de maio de 2004, consultamos um neurologista, sendo realizado um eletroencefalograma (Conclusão EEG: eeg digital análise espectral e mapeamento cerebral – normal) que estava sem alterações, contudo, devido a um episódio que ocorrera dias antes – quando o senhor estava dirigindo e, de repente, teve uma crise de ausência de memória, sem saber por alguns minutos, localizar-se geograficamente -, foi solicitada uma ressonância magnética do crânio.
Ainda naquele dia, realizamos o ultra-som de abdome total com um médico que se destacou pela maneira estúpida de lidar com os pacientes e familiares que estavam naquela Clínica para realizar aquele tipo de exame e pela imperícia técnica. O resultado do exame acusou que o pâncreas, o baço, o fígado, a vesícula biliar, os rins, os ductos biliares estavam absolutamente normais. Em seguida, foi feita a endoscopia digestiva alta com o gastroenterologista que solicitara o exame, que detectou uma gastrite, sendo solicitados os exames Bx gástrica + pesquisa de H. pylori, e prescrito Pantazol 40 mg + Plamet 10 mg.
Lembro-me que ficamos tranqüilos com a sinalização da ciência, quanto à normalidade das estruturas orgânicas investigadas, eu acreditava, em especial, por ter o domínio da linguagem da ciência, que a solução estava próxima. Contudo, as dores persistiam aumentando em intensidade e em freqüência. Posicionando-me como pesquisadora, assumi, pontualmente, o diálogo de mediação com os representantes da Ciência articulando os resultados dos exames e a sintomatologia apresentada.
No dia 17 de maio, saíram os resultados dos exames solicitados pela cardiologista, evidenciando um alto teor de glicose no sangue, oficialmente o senhor passara a ser reconhecido como diabético. Feito um ecocardiograma (Conclusão Ecocardiograma: 1. cavidade ventricular com dimensões normais. Função sistólica preservada sobre o aspecto global e segmentar, 2. disfunção diastólica tipo “alteração do relaxamento”, 3. dilatação discreta da raiz aórtica.), considerado sem alterações significativas, foi modificada a prescrição para Micardis HCT 40/12,5 + Atenolol 50 mg, e solicitado um Rx de tórax PA, que foi realizado no dia seguinte, tendo resultado normal (Conclusão RX: campos pulmonares com transparência satisfatória. Seios costofrênicos livres. Área cardíaca sem alteração. Ectasia e alongamento aórtico.).
Ainda, no mesmo dia 17, fomos à consulta com o gastroenterologista, ele substituiu o Buscopan Composto por Buscopan Simples e Anador, explicando tecnicamente a ação de cada droga no organismo, desejava saber qual o tipo de órgão que estava comprometido, prescreveu, também, Albendazol 400 mg + Secnidazol 1 g, justificando a ação de parasitas no organismo e buscando uma confirmação contundente do quadro da Diabetes, solicitou os exames Curva glicêmica (TTG de 5 hs) + Glicose + Hemoglobina glicosilada. Ao sairmos da consulta, o senhor estava otimista para realizar a observação da ação dos medicamentos e comentou “[...] essa dor chegou e quer ficar, vamos ver agora que com essa pesquisa se ela vai embora logo”.
À noite, família reunida, ministrei uma aula com recursos didáticos sobre Diabetes, destacando a importância dos hormônios produzidos pelo pâncreas e pelo fígado e a fundamental relação desses órgãos para o equilíbrio metabólico do organismo. O senhor compreendeu a necessidade da mudança dos hábitos alimentares, físicos e, conseqüentemente, os emocionais vinculados ao ser/estar diabético. Mas, as dores persistiam e o senhor identificou que, com o Buscopan Simples, elas intensificaram, e com o uso do Anador, elas aliviaram por um período de três horas em média.
Neste momento em que escrevo, sobre aquelas dores, sinto-me angustiada, pois amado pai, era, e ainda é, muito dolorido, ter visto o seu desespero silencioso diante das dores que não cessavam mesmo usando Morfina de duas em duas horas. Ante a nossa impotência, só podíamos dizer através de gestos que o amávamos muito e estávamos todos com o senhor, mesmo no momento em que o senhor entrou em coma, estivemos falando, sempre que todos, nome por nome, estávamos em acolhida. Neste sentido, a equipe médica se preocupou em viabilizar as condições para que o Senhor pudesse morrer bem (KÜBLER-ROSS, 2002; MENEZES, 2004), visto que, já o considerava um paciente terminal (KOVÁCS, 1992a; KÜBLER-ROSS, 2002; NULAND, 1995; REZENDE, 2000; ZIEGLER, 1977). O senhor ficou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) apenas o tempo necessário para procedimentos emergenciais, sendo liberado para fazermos a acolhida. Acredito que o senhor sofreu a cada frase de familiares e amigos, pois a audição é o último sentido que desaparece, e pela tentativa de manter seu olhar marcante para afirmar que estava ouvindo. Definitivamente, o processo da finitude da sua vida foi/é como destaca uma bióloga Angélica “[...] Uma lição de vida. Uma lição de morte”.
No dia 19 de maio, foram realizados os exames Curva glicêmica (TTG de 5 hs) + Glicose + Hemoglobina glicosilada. Em seguida, fomos consultar um nefrologista, enquanto família, queríamos cercar todas as possibilidades. Foi feito o exame de toque para avaliação da próstata e solicitado o exame Estudo urodinâmico, que foi realizado no mesmo dia.
As dores persistiam, e a família buscava alternativas nos chás, em massagens, em diminuir seu ritmo de trabalho, mas o seu olhar refletia um abatimento diante do desconhecido que insistia em afirmar sua existência através daquelas dores.
No dia 24 de maio, fomos à revisão com o neurologista que, considerando o laudo da ressonância magnética do crânio (Conclusão R. M. Crânio: impressão diagnóstica: alteração de sinal na substância branca dos hemisférios cerebrais, mais comumente significativa de glicose e/ou microleucoangiopatia. Infartos lacunares na coroa radiada direita e ponte à esquerda. Comentários: Possível pólipo ou cisto de retenção no antro maxilar direito.), prescreveu Tebonin 80 mg + Tegetol 200 mg e encaminhou um relatório para a cardiologista; ela, atenta ao relatório daquele especialista, alterou a dosagem do Atenolol. Esse exame trouxe contribuições para compreensão do quadro diagnóstico, entendi o porquê da perda de memória e da sua queixa de dores e mal-estar ao ter feito canal no dente incisivo dias antes.
As dores persistiam em freqüência e intensidade, já sentia angústia fazendo três dias que não conseguia dormir direito, suspeitava que pudesse ser câncer, porém mantinha um otimismo aparente. Não socializei a minha suspeita. Acelerei minhas pesquisas na Internet sobre quadros clínicos que pudessem clarear o que estava acontecendo.
No dia 25 de maio, fez-se o exame Colonoscopia com o gastroenterologista solicitante, que pediu uma Tomografia computadorizada de abdome total.
No dia 26 de maio, fomos ao gastroenterologista, ele comentou o resultado dos exames Bx gástrica + pesquisa de H. pylori (Conclusão Bx gástrica + pesquisa de Hpylori: estômago, biopsia endoscópica: gastrite crônica ativa intensa em mucosa do tipo antral. Metaplasia intestinal completa moderada no antro. Pesquisa de Hpylori positiva.) e prescreveu a medicação Pylori. Analisou os resultados dos exames curva glicêmica (ttg de 5 h – inicio = 211,0 , 120’ = 332,0) e glicose (211, mg/dl). Fazendo as devidas correlações desses resultados, fez encaminhamento para duas especialidades, Endocrinologia e Nutrição. Prosseguindo, expõe o resultado da Colonoscopia.
Aquele profissional aparentava um semblante abatido ao comunicar o resultado do exame, não aprofundou suas explicações, mas, ao falar, olhava dirigindo-se a mim, fato incomum, pois a prioridade dele era dialogar direcionado para o senhor. A cada olhar e traço que ele fazia no papel para explicar a morfologia incógnita da imagem evidenciada na Colonoscopia, eu sentia um enorme desespero, era uma sensação de que estávamos chegando ao fim do processo de construção do diagnóstico e esse sinalizava para um diagnóstico complexo.
Ele solicitou que retornássemos ao urologista para solicitar a articulação dos resultados do Estudo Urodinâmico e da Colonoscopia, e fez um relatório solicitando urgência na entrega do resultado da Tomografia Computadorizada de Abdome Total que seria realizada após aquela consulta. Ao sairmos do consultório, o senhor comentou seu estranhamento diante do comportamento do médico e, dissimulando indiferença, retruquei que ele costuma dar aula a cada paciente e que, possivelmente, estava cansado e parecia não ter almoçado.
Ao chegarmos à clínica de imagem, apresentei o relatório médico, sendo feitas perguntas necessárias para realização da Tomografia computadorizada de abdome total, o senhor foi encaminhado ao setor específico. Aguardando, comecei perceber que algo não estava bem, a demora era marcante e escutei dois funcionários comentando sobre esse fato. Saindo juntamente com o senhor, estava uma médica a qual se dirigiu a mim, justificando que devido ao adiantado da hora, não tinha como liberar o laudo, mas, no dia seguinte, às 7:00 h, poderíamos buscá-lo que estaria pronto.
Percebi, em sua fisionomia, a marca da dor, fomos para casa. Eu tinha a sensação de estar numa guerra onde o inimigo era silencioso e por isso mesmo muito poderoso. Senti-me impotente, tudo que havia aprendido na Biologia indicava que poderia ser uma situação de limite para a continuidade da sua vida. Entrei em sofrimento pelo medo da perda.
Estou pensando na sua chegada ao Hospital UNIMED, no dia 28 de maio de 2004, pela manhã, com a expectativa de solucionar as dores que sentia. O cirurgião geral o recebeu amistosamente, apresentei meu diário particular sobre a trajetória médica que havíamos feito até aquele momento. Ele não falou da suspeita diagnóstica, porque eu já havia conversado com ele por telefone e informado a posição que seus filhos, em reunião, tomaram: não queríamos que o senhor e mainha fossem informados sobre o câncer, queríamos preservá-los o maior tempo possível.
O cirurgião colocou a necessidade de interná-lo para a realização de uma videolaparoscopia no dia 01 de junho e de fazer o controle da glicemia e da pressão arterial que estavam elevadas. Eu sofria imensamente com a possibilidade do senhor não resistir ao procedimento, apesar do reconhecimento da equipe médica – cardiologia, endocrinologia, oncologia, cirurgião geral, gastroenterologia - do seu ótimo estado físico.
Após sua internação, desabei, chorei, chorei e chorei, estava diante de um fato: sua morte estava anunciada e iminente, e a minha grande parceira, a Ciência, colocava-me o limite desse caso, o senhor estava com câncer de pâncreas, isso significava que seu organismo estava num grau de desordem que dificultava o ciclo de existência orgânica, e os ruídos metabólicos sinalizavam a estagnação do fluxo energético característico do vivo.
Com sentimentos de medo, angústia e limite, questionava-me: como lidar com essa morte anunciada e iminente apenas na perspectiva da ciência? Na condição de bióloga e de Auxiliar de Enfermagem , estava apta para compreender o processo que estava acontecendo, mas faltava-me elaborar esse circuito a partir de outro lugar, mas qual? No meu processo de formação científica, a ciência que trata da vida apresenta a vida como processos bioquímicos e metabólicos, contudo estava diante da objetividade subjetiva que mobilizava uma angústia sinalizada pelo limite da ciência para lidar com a finitude da vida.
Essas questões foram pontuais, a partir da manhã do dia 27 de maio quando fui informada pelo gastroenterologista do laudo da Tomografia Computadorizada do Abdome Total:
Bases pulmonares e estruturas mediastínicas inferiores sem alterações significativas. Fígado e baço em topografia habitual, demonstrando configuração e dimensões normais. Rins com forma, localização e tamanho anatômicos. Bexiga em situação tópica, bem distendida por conteúdo fisiológico, evidenciando compressão extrínsica em seu pólo inferior exercida pela próstata. Visualiza-se formação expansiva de atenuação heterogênea, que se corresponde caudalmente com a cabeça do pâncreas, confundindo-se em parte com as alças intestinais adjacentes, com limites parcialmente definidos e diâmetro médio estimado em 04 cm. No plano da lesão identificam-se múltiplos linfonodos periaórticos aumentados de tamanho. Na fossa ilíaca direta a concreção opaca nodular intraluminar intestinal, no sítio em que se projeta o apêndice fecal. “fecalito?”. (26/5/2004 – Tomografia Computadorizada de Abdome Total do Sr. Lourival Pereira dos Santos).
Diante desse laudo, que revelava estar o senhor com câncer na cabeça do pâncreas, fiquei impotente e, naquele momento, decidi que eu não lhe falaria sobre o diagnóstico, porque gostaria de oferecer-lhe uma ambiência que evitasse uma possível depressão e contribuísse para acelerar o processo de finitude.
Até hoje não sei se essa foi a atitude mais acertada, mas o fato do senhor ter cuidado e acompanhado o processo de morte de três membros da sua família original, sua mãe com câncer de intestino, seu pai com câncer de próstata e uma irmã com câncer de pulmão, e naquele momento, estava com outra irmã em tratamento para câncer de útero, considerei que seu aprendizado com portadores de câncer colocava-o na condição de conhecedor do limite da Ciência para tratar a ação dessa enfermidade TP1 PT no organismo. Outro fator igualmente importante era o seu conhecimento sobre a importância do pâncreas para a manutenção do organismo.
Confesso que, quando fomos apanhar o resultado da tomografia computadorizada de abdome total, já desconfiava que o senhor estava com câncer, porém não sabia precisar em qual órgão. Fazia cinco noites que não conseguia dormir, pensando que os médicos haviam cercado várias possibilidades, contudo as dores não cessavam, imaginava que existia um tumor que estava crescendo provocando as dores, mas onde? Esse fato fez com que lhe pedisse para ficar no carro, enquanto eu verificava se o gastroenterologista estava no consultório. Após ser notificada da suspeita diagnóstica e dos encaminhamentos necessários e emergenciais, retornei ao carro e o senhor perguntou o que eu estava sentindo, pois estava com aspecto abatido. Justifiquei que estava com cólica.
Saímos para consulta com a endocrinologista que, após ler o meu diário de registro de trajetória médica, começou a analisar os exames. Ao chegar à tomografia, sinalizei que aquele exame havia sido recebido naquela manhã e que, quando o gastroenterologista viu o resultado, o senhor não estava presente, mas que fez encaminhamentos para outros médicos avaliarem a possibilidade de novos exames. O senhor talvez não tenha desconfiado, mas a médica modificou sua postura, parecia ter sido tomada pelo sentimento de perda, parou, olhou para o senhor e perguntou: “[...]Seu Lourival, quantos filhos o senhor tem?” O senhor respondeu: “[...] Tenho dez filhos”. Ela comentou: “[...] Os filhos são a riqueza do homem”. E o senhor prontamente: “[...] Isso é verdade, eu sou um homem muito rico e agradeço a Deus”. Ela entendeu que não era preciso falar do diagnóstico, instalava-se assim, o circuito da cumplicidade do silêncio (MANNONI, 1995); prescreveu insulina Lantus 10 UI + Novo Norm 1,0 mg. Em seguida, fomos comprar a medicação, e o senhor ficou assustado com o preço, sinceramente, gostaria de estar com uma grande dívida e poder estar escrevendo para contar-lhe novidades de vida, de movimento.
Ao chegarmos em casa, estava tão trêmula que não consegui fazer o teste de glicemia, lhe furei várias vezes, inclusive, furei mainha, mas não conseguia colocar a gota de sangue na fita de leitura do glicosímetro. Aparentando tranqüilidade, saí para conversar com Edna e Selma sobre o resultado do exame. O senhor pode imaginar como elas ficaram, porém existia algo acima de tudo, um membro da nossa família estava frágil e teríamos que nos fortalecer para propiciar-lhe condições confortáveis, dentro do possível, para transitar nesse processo. O senhor tem noção de quanto o amamos porque sempre esteve aberto para amar, respeitar e receber o amor e respeito do outro. Marcamos uma reunião com filhos, noras e genros para a noite e partimos à procura do oncologista.
Nessa procura, ficamos sabendo que só existia vaga para consulta no dia 18 de junho, e dispostas a insistir, pedir, reivindicar, fomos pessoalmente ao encontro do oncologista levando todos os exames feitos até aquele momento. Ao chegarmos à Clínica por volta das 19:30 h, fomos recebidas por ele, que prontamente avaliou a todos e colocou-nos claramente a morte anunciada e iminente. Numa atitude humana e científica, esse profissional ligou para o cirurgião geral expondo a gravidade do caso, e decidiram pela internação imediata na manhã seguinte. Foi-nos colocada a possibilidade de lhe informarmos ou não sobre o diagnóstico. Optamos, inicialmente, assegurarmos a cumplicidade do silêncio. Ficou acertado que eu ligaria para o cirurgião pela manhã para comunicar até onde havíamos conversado com o senhor.
A turbulência estava instaurada, a reunião ocorreu num clima de impotência, choros, negação do fato, sugestões de possibilidades, e eu fiquei com a responsabilidade de ser a mediadora entre a Ciência e a família, competia a mim colocar para o senhor sobre o exame na manhã seguinte, explicar que o exame era para investigar o pâncreas, contudo, dizer de maneira não alarmante, e sobre a internação, deixaríamos para o cirurgião falar. Passei a noite entre pesquisas na Internet sobre câncer de pâncreas e em ligações para dez hospitais em São Paulo que atendem casos de câncer e para o Hospital Aristides Maltez. Pela manhã, fui até sua casa administrar a insulina e prepará-lo para ida ao hospital, levei vários livros de Biologia, discutimos sobre a evolução das dores e a possibilidade de ser mau funcionamento no pâncreas.
Foram marcantes os momentos que o senhor, através de metáforas do morrer (REZENDE, 2000), comunicava seus sentimentos sobre a morte e o morrer, deixando claro sua compreensão do quadro clínico.
[...] Val, sei que estou caminhando para a morte, estou triste, mas por saber que vocês estão tristes e buscando a minha saúde, a minha melhora. Sei que cada um tem um tempo de vida e quando esse tempo termina só resta aceitar e entender que não existe doutor que dê jeito. Aceito os desígnios de Deus e quando chegar a hora é a hora (Sr.Lourival, jun./2004).
Fiquei balançada e quase chorando e, em tom de brincadeira, te chamei de Exagerado. Era uma tentativa de esconder meu desespero e vontade de gritar, não conseguiria lhe contar sobre o diagnóstico e o limite da sua vida.
Em algumas conversas o senhor colocou a sua leitura do que estava acontecendo:
[...] Veja bem, estou aqui no hospital, os ‘técnicos’ [médicos] já fizerem vários exames e me deram muitos remédios, mas continuo sentindo essas dores, não é para gabar as dores, mas, de zero a 10, dou nota 10 para elas. Penso no meu pai quando começou a sentir dores e o médico falou que era câncer de próstata, que o quadro era terminal e que a morte poderia acontecer em cerca de 30 dias. Não foi como ele previu, pois o homem faz previsões e Deus é quem decide o final, mas com 27 dias meu pai morreu. Agora eu estou aqui na cama de um hospital com essa dor que não passa. Sei que existem duas possibilidades para o que estou sentindo: ou melhoro ou saio daqui diretamente para o cemitério. Tenho chamado por Deus (Sr. Lourival, jun./2004).
Estávamos diante de alguém que, apesar de não ser informado sobre a gravidade da sua enfermidade, compreendia e lidava com sua morte como complementaridade do existir.
Visualizo seu velório e encontro muitos rostos conhecidos os quais fazia tempo não via, rostos familiares que cruzavam no cotidiano, rostos que nunca tinha visto. Ali se encontravam adultos, jovens, crianças, homens e mulheres para velá-lo. Apesar da dor, era gratificante escutá-los falar sobre sua personalidade amiga, coerente, equilibrada, sempre com uma palavra de auxílio ao Outro.
Nossos parentes sempre fizeram do velório um ponto de aglutinação dos familiares, amigos, vizinhos e amigos dos amigos. Literalmente, nós enterramos os nossos mortos. Acredite, o seu velório foi significativamente marcante, ali passaram centenas de pessoas, conversaram, saudaram-se, comentaram a sua partida tão prematuramente. Querido pai, faz mais de um mês que iniciei esta escrita e neste momento estou tomada pela emoção, pois sua singularidade de Ser não marcou apenas as vidas de seus familiares, mas, também, de tantos outros Seres, seu exemplo de dignidade na construção do seu núcleo familiar juntamente com mainha é considerado um exemplo de um desejo realizado.
Como todo velório, o seu também teve cenas engraçadas, sobre elas, com certeza, o senhor faria comentários bem-humorados. Licinha, com suas imensas unhas, delegou-se a tarefa de servir cafezinho todo o período. O frio da noite foi amenizado com uma enorme fogueira, na qual muitas pessoas conversavam, comiam e bebiam. Analisando esse episódio, considero que os ritos e os rituais fúnebres (ARIÈS, 1981, 1982, 2003; BAYARD, 1996; HERTZ, 1928) têm uma função social, cultural e afetiva singular para os indivíduos que continuam temporariamente vivos. Eles agregam, aproximam, articulam e ressignificam as relações entre os sujeitos. Ali pude ver pessoas que estavam de relações cortadas, conversando sobre a efemeridade da vida e da importância dos velórios como renovadores de relações.
Penso como seus nove netos, ainda crianças, vêm lidando com sua ausência, cada um a seu modo ressignifica a sua morte, de acordo com a compreensão peculiar da idade apesar de expressarem que o senhor não existirá mais fisicamente (HISATUGO, 2000; KOVÁCS, 1992b; TORRES, 1999).
Fui encarregada de dar a notícia da sua morte para Marco Antônio (5 anos), Danilo (8 anos), Karina (2 anos), e Cássio (7 anos). O que falar? Como falar? Como prepará-los para, ao saírem do seu quarto, encontrarem, na sala, o seu corpo imóvel dentro de um caixão? Havia dias que elas rezavam pedindo a Deus que seu Vô Fulô ficasse bom, tinham certeza de que seriam atendidas. Essa foi, também, uma das tarefas mais difíceis que enfrentei. Cássio chegou próximo ao caixão, olhou e tocou seu corpo frio e pediu a benção, Danilo recusou-se a passar pela sala e ficou em estado de inquietação e tristeza que, posteriormente, contribuiu para seu adoecimento, a Karina, ao chegar à sala, começou a chorar pedindo que tirasse seu Vô Fulô dali, Marco Antônio, como o senhor sabe, com sua alma de filósofo e humorista, olhar reflexivo, observava tudo de maneira terna.
Hoje, 30 de agosto de 2006, ao reler esta carta e preparar-me para falar-lhe do erro cometido pela Auxiliar de Enfermagem que administrou uma medicação não-prescrita, a qual induziu o seu estado de coma, acelerando a finitude da sua vida, sinto-me envolta em tamanha emoção que não tenho condições para prosseguir a escrita.Penso em seus ensinamentos sobre a importância do exercício da tolerância, do perdão,do ficar no lugar do Outro. Nesta situação específica: tenho dificuldade para esse exercitar.
Amado pai, hoje, 15 de fevereiro de 2008, após significativos aprendizados sobre a morte e o morrer, busco relatar-lhe o circuito instalado de erros técnicos que culminou no desfecho letal da sua existência. Lembro-me da sua alegria, da nossa alegria familiar com a sua reação à primeira (e única) sessão de quimioterapia, no dia 18 de junho de 2004. Fizemos registro iconográfico e éramos somente FÉ/ESPERANÇA/AMOR. Todavia, no dia 23 de junho, o senhor apresentou mal-estar, comunicamos ao oncologista que nos aconselhou levá-lo para o hospital. No trajeto, sinto-me, ainda, emocionada, o senhor, com a voz embargada, fez seu último pedido: “Peço a vocês que se mantenham unidos”. Esse pedido mobilizou o choro de todos que estavam no carro; e eu, buscando ser forte, falei-lhe: “Deixe de ser exagerado. O senhor vai apenas fazer uma medicação.”. Mal sabíamos, aquela foi sua última fala coletiva, pois, quando chegamos ao hospital, o oncologista já estava lá, ele fez a prescrição, e uma Auxiliar de Enfermagem ficou responsável por administrá-la. Pararei aqui, pois continua sendo difícil escrever sobre o erro medicamentoso cometido pela Auxiliar de Enfermagem, erro esse que o colocou imediatamente em estado de coma. Aquela profissional acelerou a finitude da sua vida.
Painho, hoje, 30 de maio de 2008, após significativo movimento de construção/(des)construção/(re)construção de minhas experiências formativas pessoal-acadêmico-profissionais, retomo a escrita para contar sobre a evolução da minha pesquisa. Limites e possibilidades foram vivenciados, dentre eles, a elaboração do luto referente à perda da minha saúde metabólica.
Considero que pesquisar significa estar sempre em movimento. Movimento que, sinalizado pelas insurgências, opacidades e demandas suscitadas ao longo de um processo de investigação de um determinado objeto, é ponto primordial para o/a pesquisador/a construir/(des)construir/(re)construir sua pesquisa (SANTOS, 2003), assim sendo, a evolução do meu movimento é simbolizada, neste estudo, em seis textos submetidos para análise.
O texto do projeto de pesquisa (SANTOS, 2004a) - A interface ciência/subjetividade na formação do/da professor/professora de biologia: uma leitura do discurso docente sobre origem da vida e a morte via os estudos culturais -, submetido à Banca Examinadora do processo seletivo do Doutorado em educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O texto do projeto de pesquisa (SANTOS, 2004b) - A morte como objeto de reflexão da formação de biólogos: uma leitura do discurso do sujeito sobre a finitude do Homo sapiens sapiens via os estudos culturais -, apresentado, em 19 de setembro de 2004, à Linha de Pesquisa Estratégias de Pensamento e Produção do Conhecimento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O texto do Seminário de Pesquisa I (SANTOS, 2005a) – A concepção do biólogo sobre a morte -, apresentado em 12 de fevereiro de 2005, à Professora-Doutora Maria da Conceição Xavier de Almeida (Orientadora). Apresentado no XVII Encontro de Pesquisa Educacional do Norte Nordeste (SANTOS; ALMEIDA, 2005).
O texto do Seminário Doutoral I (SANTOS, 2005b) - A concepção do biólogo sobre a morte: tramas subjetivas e formação científica -, apresentado em 09 de dezembro de 2005, à Banca Examinadora composta pela Professora-Doutora Rosália de Fátima e Silva (Orientadora) e pela Professora-Doutora Helena Claúdia Frota de Holanda (UFC).
O texto do Seminário de Pesquisa II (SANTOS, 2006) - A concepção do biólogo sobre a finitude da vida do Homo sapiens sapiens: a interface ciência-subjetividade -, apresentado em 18 de dezembro de 2006, à Banca Examinadora composta pela Professora-Doutora Rosália de Fátima e Silva (Orientadora), pela Professora-Doutora Andréia Clara T. Galvão de Britto (Psicóloga. Psicanalista Membro do Centro de Estudos Freudianos do Recife), pela Professora-Doutora Érika dos Reis Gusmão de Andrade (UFRN) e pelo Professor-Doutor Walter Pinheiro Barbosa Júnior (UFRN).
E o texto do Seminário Doutoral II (SANTOS, 2008a) - A morte, um saber que o sujeito não deseja saber: os mecanismos objetivos-subjetivos, fundamentados pelo não-dito da morte, utilizados pelo biólogo, para lidar com o duplo vida-morte -, apresentado em 16 de maio de 2008, à Banca Examinadora composta pela Professora-Doutora Rosália de Fátima e Silva (Orientadora), pelo Prof. Dr. Francisco de Assis Pereira (UFRN), pelo Prof. Dr. Roberto Sidnei Alves Macedo (UFBA) e pela Profª. Drª. Wani Fernandes Pereira (UFRN).
Amado Pai, hoje, 30 de julho de 2008, terminei a escrita da minha tese de Doutorado em Educação. Sim, estou me colocando na condição de pleitear, à academia, o título de Doutora. Sinto-me imensamente feliz por estar cruzando mais um umbral em minha existência. Estou, também, singularmente emocionada, pois a lembrança da primeira ida à escola com o senhor é marcante, uma cena constituída pela memória olfativa composta pelo odor delicioso do lanche que mainha preparara para acompanhar a queijada que o senhor havia comprado na Padaria da Fé - continuo gostando de queijada -, pelo cheiro da colônia Seiva de Alfazema com que mainha perfumou-me; pela memória cromática constituída pela cor rosa da lancheira, pela fita de seda rosa que prendia meus cabelos, pelo azul da sua velha bicicleta; pela memória sonora constituída pelo som das pedaladas da sua bicicleta, latidos de cães – fato que contribuía para aumentar o meu medo de estar indo para o mundo estranho chamado escola -, do seu diálogo-monólogo apresentando-me as vantagens da escola e de se estudar, é pontual o trecho no qual meu choro era intenso e o senhor afirmou-me: “[...] Val, não chore. [...]. Você está indo para a escola para ser uma Doutora.”. Tenho clareza que o senhor desconhecia a existência de um título acadêmico designado de Doutor/Doutora, especialmente por pertencermos a uma linhagem de gerações composta por analfabetos e semi-alfabetizados. Neste momento, após quarenta anos, estou chorando. Estou chorando, por tudo que esse movimento/título simboliza para mim - sobretudo, pela memória da submissão cognitiva em sete exames vestibulares para poder acessar a academia -, para nossa história parental/familiar, para nossa etnia, para nosso grupo sócio-econômico-cultural. E, enxugando as lágrimas, tenho a certeza de que seus ensinamentos foram/são significativos para minha identidade de sujeito objetivo-subjetivo.
O meu movimento de construção/(des)construção/(re)construção para obtenção do título de Doutora em Educação é expresso pelo estudo intitulado O discurso formativo do biólogo sobre a morte. Matizes e metáforas do saber que o sujeito não deseja saber.
Os matizes e as metáforas do saber que o sujeito não deseja saber são as construções subjetivas que expressam o movimento de recursividade entre o imaginário e o real, imbricado na significação dos sentidos inerentes às tensões e os conflitos que fundamentam a tessitura silenciosa que, permeia as concepções de morte do sujeito objetivo-subjetivo e os mecanismos objetivos-subjetivos, fundamentados pelo não-dito da morte, que ele constrói na dinâmica dos sistemas de crenças individuais e coletivos para lidar com o fenômeno biológico morte e com a finitude da vida.
Defendo a tese que: A morte é um obstáculo epistemológico anunciador de que algo, sempre, escapará na perspectiva objetiva do conhecimento, especialmente do conhecimento científico, visto que, compreendida como a construção cognitiva sobre a ruptura do fenômeno biológico vida, está implicada na tessitura de construções imaginárias e simbólicas sobre a finitude da vida; constitui-se um saber metafórico – fomentado pelo silêncio ruidoso -, que não se permite conhecer por inteiro, mobilizando, assim, o sujeito à busca/procura de verdades transitórias que reduzam a angústia ontológica de ser-mortal nucleada na dimensão subjetiva implicada no ato de conhecer. É nesse movimento de busca/procura que o objeto mental vida pós-morte ganha um valor simbólico-real que requer um olhar multirreferencial para o objeto de estudo da Biologia – a vida – e a sua implicação: a finitude da vida, especialmente, por deslocar a onipotência da objetividade científica expressa por signos e símbolos que procuram dizer da completude do conhecimento científico -, sinalizando, assim, a existência da dinâmica da incompletude implícita na subjetividade que fundamenta a construção de saberes relativos ao duplo vida-morte e à temporalidade da existência do Homo sapiens sapiens, tendo como eixo norteador o desejo do sujeito, de não desejar saber sobre a morte, implícito nos mecanismos objetivos-subjetivos fundamentados pelo não-dito da morte que constitui a epistemologia da existência do sujeito objetivo-subjetivo, cujo núcleo é a negação da morte.
O texto da tese está assim estruturado:
Na Parte I – Na dança da existência e da finitude. A implicação da pesquisadora com o objeto de estudo – localizo minhas experiências formativas pessoal-acadêmico–profissionais com a temática do duplo vida-morte, que corroboraram na construção da teia epistêmica do meu objeto de estudo do Doutorado em Educação. Compõe-se de dois capítulos: Cap. 1 e Cap.2.
No Capítulo 1 – In memoriam. Uma carta dirigida ao meu pai -, apresento minha implicação com meu objeto teórico de investigação, no circuito da minha história de vida, na perspectiva pessoal, elegendo, pontualmente, o processo da finitude da sua vida e a estruturação da tese.
No Capítulo 2 – A cisão do duplo vida-morte. O silêncio ruidoso sobre a morte -, apresento o cenário etnocenológico que contextua minhas experiências formativas relacionadas com o duplo vida-morte, na área da Saúde, como Auxiliar de Enfermagem , e na área da Educação, como professora-bióloga, que corroboraram na construção da teia epistêmica do meu objeto de estudo do Doutorado em Educação. Localizo que o duplo vida-morte é expresso nas minhas experiências formativas acadêmico-profissionais através da cisão do duplo vida-morte inscrita no silêncio ruidoso sobre a morte. E que essa cisão destaca a morte e a finitude da vida como um locus epistemológico constituído das tensões e conflitos, objetivos-subjetivos, inerentes à epistemologia do movimento do existir do indivíduo, e que se caracteriza como um saber que o sujeito não deseja saber, implicado na tessitura do núcleo de estranhamento do sujeito, para lidar com a finitude da vida humana. Conceituo silêncio ruidoso sobre a morte. Localizo o objeto de estudo - o discurso do biólogo sobre a morte. Exponho a problemática do estudo, esclarecendo: Por que investigar o discurso do biólogo sobre a morte? Destaco a questão sensibilizadora do estudo: Qual a tessitura epistêmica que fundamenta o discurso do biólogo sobre a morte?
Na Parte II – A caminhada epistemológica – apresento a teia epistêmica teórico-metodológica construída no processo de desvelamento do meu objeto de estudo do Doutorado em Educação. É composta por um capítulo: Cap. 3.
No Capítulo 3 – A teia epistêmica teórico-metodológica -, evidencio os princípios teóricos que fundamentam a teia epistêmica construída no processo de desvelamento do objeto de estudo: a indexação/indexalidade, a noção de sujeito na epistemologia da complexidade, os conceitos de: sistema de crenças, implicação, noção de escuta sensível, dentre outros. Destaco os princípios norteadores e fundantes da entrevista compreensiva, base metodológica do processo de construção/(des)construção/(re)construção do meu objeto de estudo. Situo cinco momentos fundamentais na construção dos planos evolutivos. Apresento as biólogas, atrizes/autoras, deste estudo, privilegiando dados referentes a formação acadêmica, idade, opção religiosa e tempo de exercício docente. Construo a representação gráfica da teia epistêmica teórico-metodológica do estudo.
Na Parte III – A morte como locus epistemológico. Entre o insólito e o metafórico -, inauguro a tessitura do diálogo intersubjetivo sobre a morte, constituído pela tríade entrevistadas-pesquisadora-autores e/ou teóricos, tendo como ponto de partida a morte na história de vida das biólogas atrizes/autoras, com a finalidade de estabelecer um lugar em que essas biólogas exercitem suas falas de sujeito objetivo-subjetivo. Esse diálogo tem como princípio o reconhecimento da autoridade autorizada das colaboradoras ao abordarem sobre a morte. Exploro a amálgama de conceitos subjetivos, nucleares e periféricos que circunscrevem as temáticas morte e vida, numa interface entre o insólito e o metafórico. É composta por um capítulo: Cap. 4.
No Capítulo 4 – A tessitura epistêmica sobre a morte. Metáforas e matizes de um saber formativo – situo a dinâmica da construção da teia epistêmica a qual desvelou que, quando se aborda a morte, sob a perspectiva da finitude da vida humana, fica patente o conflito cognitivo objetivo-subjetivo do discurso do biólogo sobre a familiaridade da vida e o estranhamento da morte, o que possibilitou localizar a existência de um núcleo de interface que expressa o sujeito objetivo-subjetivo. Apresento uma história fundamentada nas expressões-sentidos oriundas das experiências formativas das biólogas, atrizes/autoras, sobre/com a morte, nucleadas no circuito emocional-cognitivo constituído pelo impacto da consciência da morte na infância. A narrativa foi estruturada numa perspectiva espetacular da Etnocenologia. Apresento duas concepções de morte fundamentadas na recursividade do discurso das biólogas, atrizes/autoras, sobre a vida e sobre a morte cifradas pela coexistência originária e dialética da tríade constituída pelo traumatismo da morte, pela consciência da morte e pela crença na imortalidade. Construo os conceitos de re-aliança, de não-dito da morte e núcleo de interface. Estabeleço a noção de duplo sentimento de estranhamento e de familiaridade sobre a morte, de cultura científica e de cultura humanística. Localizo o medo da morte como a interface de re-aliança que expressa o sujeito objetivo-subjetivo e diz da possibilidade de re-aliança entre cultura científica e cultura humanística, para se pensar, numa educação para o duplo vida-morte. Construo uma tessitura tipológica de medo da morte. Defino dois mecanismos objetivos-subjetivos fundamentados pelo não-dito da morte que expressam a subjetividade implícita nos processos de significação da angústia do sujeito diante da morte e da finitude da vida do Homo sapiens sapiens.
Nas Considerações finais, revisito a caminhada epistêmica do estudo, localizando as descobertas e apresento a tese defendida pelo estudo.
Dedico esta tese, a você, meu pai, Lourival Pereira dos Santos (Seu Fulô), por ter, juntamente com mainha, Maria Sebastiana dos Santos (Dona Nita), construído um Núcleo Familiar ancorado no Princípio de Autonomia, tornando-nos dependentes de múltiplas possibilidades para um trânsito significativo no Existir. Como se não bastasse esse rico circuito de aprendizados, disponibilizou-me o mais singular de todos os aprendizados: a finitude da sua vida.
Sua filha, Val
Valdeci dos Santos
CONCLUSÃO
Ao apresentar minha implicação com meu objeto teórico de investigação, no circuito da minha história de vida, na perspectiva pessoal, elegendo, pontualmente, o processo da finitude da vida do meu pai. Enfrentei dois limites. O primeiro foi o de falar sobre a morte daquele com o qual constituí vínculos afetivos e de proximidade, o outro foi o de transpor para a escrita o circuito de angústia, de medo, de luto, de impotência vivenciada nesse processo: Como me posicionar diante da verdade da ciência que anunciava o limite metabólico daquele ser vivo? Como lidar com o processo da morte anunciada e iminente daquele sujeito que construiu uma história de possibilidades no núcleo familiar e que não imaginávamos perder num período tão breve? O que falar para ele a cada evidência de sinais e de sintomas que anunciavam a proximidade da finitude da sua vida? Como lidar com o conflito entre a necessidade psíquica de instaurar o lugar chamado Deus como possibilidade para lidar com a angústia e o medo e a certeza científica da falência metabólica?
Foi na singularidade desse recorte, que diz do estranhamento e da familiaridade do tema morte, que optei por narrar esse processo através de uma carta dirigida ao meu pai. Ao narrar o processo da finitude da vida do meu pai através de uma carta dirigida a ele, socializo, simultaneamente, minha condição de sujeito e de pesquisadora trazendo contribuições para uma leitura do circuito vivenciado pelos sujeitos diante da finitude da vida do Outro, do sentimento de família, do sentimento de pertencimento, da sensibilidade e atitude diante da morte, enfim, da sensibilidade coletiva com respeito ao fenômeno morte.
Nessa carta dirigida ao meu pai, evidencio os núcleos de significados relacionados à temática morte que fundamentam o meu olhar multirreferencial para a morte. Dentre esses núcleos, aí se apresentam: a psicologia do sujeito diante de sua morte anunciada e iminente (KÜBLER-ROSS, 2002), o medo da família, o processo de luto (FONSECA, 2004; PARKES, 1998); a criança e a morte (HISATUGO, 2000; TORRES, 1999); a hospitalização, a relação de equipe de Enfermagem e da equipe médica com o doente em fase terminal e sua família (KOVÁCS, 2003; KÜBLER-ROSS, 2002; OKAMOTO, 2004; REZENDE, 2000); rituais fúnebres (BAYARD, 1996); o homem diante da morte (ARIÈS, 1981, 1982, 2003; BALLESTEROS, 1998; BECKER, 1995; LELOUP, 2004; MORIN, 1997), o último pedido do moribundo (KÜBLER-ROSS, 2002), o erro técnico da Auxiliar de Enfermagem.
Defino (SANTOS, 2008b), os núcleos de significados como as constelações temáticas emergidas na elaboração dos discursos dos sujeitos sobre um determinado tema central. Esses núcleos evidenciam a singularidade dos sujeitos diante de temas que comportam as opacidades, os atos falhos, os lapsos de memória, os conflitos, as implicações libidinais, os preconceitos e as crenças primitivas, constituindo-se num sistema de referências das demandas conscientes e inconscientes.
Referências
ARIÈS, Philippe. O homem diante da morte. Tradução: Luiza Ribeiro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981. v. 1. 313 p.
______. O homem diante da morte. Tradução: Luiza Ribeiro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982. v. 2. p. 323-670.
______. História da morte no ocidente: da idade média aos nossos dias. Tradução: Priscila Viana de Siqueira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. 312 p.
BALLESTEROS, Wladimir. A vida na morte: uma introdução ao maior enigma do ser humano. São Paulo: Axis Mundi, 1998. 143 p.
BAYARD, Jean-Pierre. Sentido oculto dos ritos mortuários: morrer é morrer? Tradução: Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1996. 321 p.
BECKER, Ernest. A negação da morte. Tradução: Luiz Cláudio de Nascimento Silva. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1995. 301 p.
FONSECA, José Paulo da. Luto antecipatório: as experiências pessoais, familiares e sociais diante de uma morte anunciada. Campinas: Livro Pleno, 2004. 183 p.
HERTZ, Robert. Contribution à une étude sur la représentation collective de la mort (1907). In: ______. Sociologie religieuse et folklore: recueil de textes publiés entre 1907 et 1917. 1re édition. Paris: Les Presses universitaires de France, 1928. p. 14-79. Disponível em: <Thttp://classiques.uqac.ca/classiques/hertz_robert/socio_religieuse_folklore/hertz_socio_rel_folklore.pdfT>. Acesso em: 26 jun. 2006.
HISATUGO, Carla L. Codani. Conversando sobre a morte: para colorir e aprender. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. 41 p.
KOVÁCS, Maria Julia. Educação para morte: desafio na formação de profissionais de saúde e educação. São Paulo: Casa do Psicólogo: FAPESP, 2003. 174 p.
______. Paciente terminal e a questão da morte. In: KOVÁCS, Maria Julia (Coord.). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992a. p. 188-203.
______. Morte no processo do desenvolvimento. A criança e o adolescente diante da morte. In: KOVÁCS, Maria Julia (Coord.). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992b. p. 48-57.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que doentes terminais têm para ensinar a médicos e enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. Tradução: Paulo Menezes. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 296 p.
LELOUP, Jean-Yves. Além da luz e da sombra: sobre o viver, o morrer e o ser. Tradução: Pierre Weil e Regina Fittipaldi. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. 119 p.
MANNONI, Maud. O nomeável e o inominável: a última palavra da vida. Tradução: Dulce Duque Estrada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. 149 p.
MENEZES, Rachel Aisengart. Em busca da boa morte: antropologia dos cuidados paliativos. Rio de Janeiro: Garamond: Fiocruz, 2004. 228 p.
MORIN, Edgar. O homem e a morte. Tradução: Cleone Augusto Rodrigues. Rio de Janeiro: Imago, 1997. 356 p.
NULAND, Sherwin B. Como morremos: reflexões sobre o último capítulo da vida. Tradução: Fábio Fernandes. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. 286 p.
OKAMOTO, Miriam Roseli Yoshie. A morte invade espaços: vivências de profissionais na instituição hospitalar. 2004. 222 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
PARKES, Colin Murray. Luto: estudos sobre a perda na vida adulto. Tradução: Maria Helena Franco Bromberg. São Paulo: Summus, 1998. 290 p.
REZENDE, Vera Lúcia. Os últimos momentos – abordagem psicológica para pacientes terminais. In: REZENDE, Vera Lúcia (Org.). Reflexões sobre a vida e a morte: abordagem interdisciplinar do paciente terminal. Campinas, SP: UNICAMP, 2000. p. 69-82.
SANTOS, Valdeci dos. A morte, um saber que o sujeito não deseja saber: os mecanismos objetivos-subjetivos, fundamentados pelo não-dito da morte, utilizados pelo biólogo, para lidar com o duplo vida-morte. 2008. 196 f. Texto (Seminário Doutoral 2, apresentado em 16/maio/2008) - Programa de Pós-Graduação em Educação - (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008a.
______. O discurso formativo do biólogo sobre a morte. Matizes e metáforas do saber que o sujeito não deseja saber. 2008. 182 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008b.
______. A concepção do biólogo sobre a finitude da vida do Homo sapiens sapiens: a interface ciência-subjetividade. 2006. 114 f. Texto (Seminário de Pesquisa 2, apresentado em 18/dez./2006) – Programa de Pós-Graduação em Educação - (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.
______. A concepção do biólogo sobre a morte. 2005. 48 f. Texto (Seminário de Pesquisa 1, apresentado em 12/fev./2005) – Programa de Pós-Graduação em Educação - (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005a.
______. A concepção do biólogo sobre a morte: tramas subjetivas e formação científica. 2005. 73 f. Texto (Seminário Doutoral 1, apresentado em 09/dez./2005) - Programa de Pós-Graduação em Educação - (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005b.
______. A interface ciência/subjetividade na formação do/da professor/professora de biologia: uma leitura do discurso docente sobre origem da vida e morte via os estudos culturais. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2004a. 17 f. Texto do projeto de pesquisa submetido à Banca Examinadora do processo seletivo do Doutorado em educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
______. A morte como objeto de reflexão da formação de biólogos: uma leitura do discurso do sujeito sobre a finitude do Homo sapiens sapiens via os estudos culturais. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2004b. 24 p. Texto do projeto de pesquisa apresentado à Linha de Pesquisa Estratégias de Pensamento e Produção do Conhecimento.
_______. O papel dos sistemas de crenças na constituição do professor de Biologia no ensino médio: auxílio ou empecilho? 2003. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
SANTOS, Valdeci dos; ALMEIDA, M. C. A concepção do biólogo sobre a morte. In: ENCONTRO DE PESQUISA EDUCACIONAL DO NORTE NORDESTE, 17., 2005, Belém. Resumos... Belém: INEP/UFPA/ANPED, 2005. 1 CD-ROM.
TORRES, Wilma da Costa. A criança diante da morte: desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. 179 p.
ZIEGLER, Jean. Os vivos e a morte: uma “sociologia da morte” no ocidente e na diáspora africana no Brasil, e seus mecanismos culturais. Tradução: Áurea Weissenberg. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.